Visão | A "sinuosa história de amor" de José Castelo Branco e Lady Betty Grafstein. Como o casal foi parar às páginas da Vanity Fair (2024)

José Castelo Branco e Betty Grafstein são os protagonistas de uma investigação publicada esta terça-feira, no site da revista americana Vanity Fair e que faz parte da sua edição de setembro. Com o título “A sinuosa verdadeira história de amor de Lady Betty Grafstein e José Castelo Branco”, a autora da peça, Alice Hines – que durante quatro meses acompanhou a vida do casal – revelou alguns episódios de abuso que testemunhou bem como histórias, alegadamente, fabricadas pelo português. “Uma herdeira de diamantes de 95 anos e uma estrela de reality show muito mais jovem e genderfluid ficaram famosos no TikTok pelo seu romance épico. Terá sido tudo uma grande burla?” É desta premissa que Hines parte para o seu o artigo, que apanhou, pelo meio, a detenção de Castelo Branco acusado de violência doméstica.

Foi através das redes sociais, num dos muitos – e longos – vídeos em direto de José Castelo Branco na plataforma TikTok que Hines se deparou com a dupla pela primeira vez. Juntos há quase 30 anos, entre “jantares, galas, desfiles de moda”, o casal partilhava a sua rotina diária com quase 530 mil seguidores nas redes sociais Instagram e TikTok. Após um pedido de entrevista, Hines acabou por ser convidada a acompanhar de perto a sua rotina e conhecer a sua história. Localizado no East 62nd Street, em Nova Iorque, o seu apartamento é descrito como “um cenário de um filme maximalista. Esculturas de macacos ajoelhavam-se em oração em pedestais dourados. A sala de estar estava decorada com mobiliário Luís XVI, uma coleção de santos católicos e um nu masculino em bronze. A iluminação era feita por um candelabro. Os assentos eram em leopardo. Uma ópera tocava em altifalantes escondidos”, descreve.

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A jornalista descreve Castelo Branco, nascido em Moçambique, em 1962, com ascendência africana, portuguesa e indiana, como “um modelo de 61 anos que se tornou negociante de arte e que passou a vida a quebrar as regras de género e raça” e que ficou muito conhecido pelos programas de televisão em que participou. Hines chega até a compará-lo a uma “estrela ao nível Kardashian”, uma família famosa nos EUA pelo seu próprio reality show. Já Betty, de nome verdadeiro Elizabeth Larner, de 95 anos, é descrita inicialmente como uma “socialite britânico-americana que tinha herdado uma grande fortuna do seu segundo marido, o falecido negociante de diamantes Albert Grafstein”, o seu segundo marido. A certo ponto, a peça dedica-se a descrever como o casal se conheceu, no início dos anos 90, em Cascais, e levava uma vida repleta de “galas, tardes em iates, a agir como ícones globais”.

Contudo, nos quatro meses que acompanhou a sua vida luxosa, Hines descreve vários episódios de violência de que foi testemunha. Numa das suas primeiras saídas com o casal, a jornalista relata como Betty, confinada a uma cadeira de rodas, devido à idade avançada, acompanhou o marido numa das sua muitas visitas a cirurgiões plásticos. Após uma corrida pelas ruas de Nova Iorque para chegar ao consultório a tempo, e em que Castelo Branco terá empurrado, a grande velocidade, a cadeira de rodas em que seguia Betty, o português ausentou-se do consultório durante uns instantes, dando a Betty a possibilidade de contar a Hines o quão cansada se encontrava. “Betty olhou diretamente para mim e foi direta ao assunto: Ela preferia não ser incomodada a este ponto. Não é que ela quisesse ficar em casa sem fazer nada – ela gostava de ver pessoas. Mas o José ultrapassou os limites”, escreveu a jornalista.

Outros episódios testemunhados pela jornalista ocorreram quando Castelo Branco tentava calçar Betty, cujos pés se encontravam “inchados” – segundo a sua descrição – mas apesar dos seus protestos o marido insistia. “Ao passar algum tempo com o casal em Nova Iorque, testemunhei situações em que a ideia de beleza de José parecia mais do que aquilo que Betty podia suportar. Várias vezes José tentou calçar um par de sapatos Chanel nos pés inchados de Betty. Betty fez uma careta e protestou com um ar de dor no rosto. José insistiu”, conta.

Hines descreve ainda uma discussão do casal, nas vésperas de uma viagem para Portugal, para marcarem presença no batizado da neta de Castelo Branco. “Quando estávamos a arrumar as coisas, por volta das 23 horas, ouvi o casal a discutir no quarto. ‘Estás a arruinar a minha vida!’, gritava José. ‘Eu não vou para Portugal!’ disse Betty”, relatou a enviada da Vanity Fair. Horas após a discussão, segundo a jornalista, parecia que nada tinha acontecido.

Também Roger Basile, o filho de Betty, de 75 anos, do seu primeiro casamento, foi entrevistado pela jornalista, depois da hospitalização de mãe. “Tenho estado em silêncio porque isto já acontece há anos”, contou-lhe. “Não queria dizer coisas que as pessoas ainda não soubessem”. O filho de Betty referiu ter conhecimento da violência doméstica a que a sua mãe estava sujeita desde o final da década de 1990, após ter recebido um sinal de alerta de amigos da mãe. “Quando lá cheguei [a Portugal], ela estava toda negra, desde as nádegas até ao pescoço, onde José a empurrou e continuou a dar-lhe pontapés no chão”, lê-se.

Quando confrontado com o episódio, Castelo Branco afirmou à jornalista “nunca ter acontecido” e que o filho de Betty conspirava “há 28 anos para acabar com o casamento para seu próprio benefício financeiro”. A gerir o negócio de diamantes da família, Basile refere que a mãe não possui nenhuma fortuna. “A minha mãe não tem um tostão!”, contou a Hines, acrescentado que Betty vive de pensões da Segurança Social. “Os meus avós eram pessoas simples”, referiu Basile que afirma que o avô era, na verdade, um tipógrafo e não o dono da revista masculina The Yachtsman, como contado por Castelo Branco e Betty inicialmente. Um facto confirmado pela jornalista nos registos do recenseamento.

Meses depois de ter ido parar ao hospital, Betty, desta vez ao lado do filho, voltou a entrar em contacto com a jornalista onde descreveu como “bullying” os abusos que alegadamente sofria às mãos de José e confirmou o processo de divórcio. “Ele estava sempre a dar um murro quando eu menos esperava”, explicou-lhe.

As incongruências nas suas histórias

Para a jornalista, muitos dos pormenores das histórias contadas por Castelo Branco e Betty nas entrevistas iniciais não batiam certo. Uma primeira está relacionada com a origem da dintiginção “Lady” de Grafstein e que, alegadamente, se deve ao facto de a sua avó adotiva, Dorothy Cordelia Cheney, ter sido dama de companhia da rainha Maria de Teck, mulher de Jorge V, rei de Inglaterra. Nascida no Reino Unido em 1928, Betty foi adotada pelos avós, Bertram Thomas Larner e Dorothy Cordelia Cheney, dama de companhia da rainha, que lhe concedeu ainda em bebé, o títulode“Lady”. “Entretanto, não consegui encontrar o nome de Betty nos registos de cavaleiros e damas homenageados pelos monarcas do Reino Unido. Quando pedi pormenores a José e Betty, o casal disse-me que Betty tinha recebido o título de dama numa cerimónia em 2001. Tinham fotografias e uma medalha do evento, disseram, mas estavam na casa em Sintra”, escreveu.

Segundo o filho de Betty, grande parte da história não passa de uma obra de ficção. “O José impôs estas histórias e elas tornaram-se celebridades em Portugal. E ela alinhava nisso porque gostava da atenção”, defendeu o filho de Betty, que acredita que a mãe está completamente inocente na fabricação da mentira. Já Betty, sem confirmar a veracidade da história, meses depois, justificou as declarações do marido referindo o gosto do mesmo por “glorificar tudo e de se exibir”.

Outra incongruência está relacionada com a fortuna de Betty, com várias fontes a negarem o património financeiro da empresa da qual Betty é herdeira. “Não consegui encontrar muito sobre a Grafstein Diamond Corporation. O único sítio que encontrei que mencionava o negócio da família, para além de artigos sobre Betty, era uma joalharia de bairro em New Jersey que, a dada altura, tinha vendido os seus produtos”, lê-se.

Também uma das suas propriedades, em Sintra, não batia certo. Descrita pelo casal como uma mansão onde decorriam grandes festas, a casa encontrava-se para aluger na plataforma Airbnb. “A casa de campo era outro quebra-cabeças. (…) Quando José entrou em cena, o casal organizava lá festas de verão luxuosas. Mais recentemente, um antigo amigo e concorrente de um reality show, Pedro Pico, que José e Betty descrevem agora como um “ocupante”, estava a anunciar a casa para alugar no Airbnb”, escreveu.

Na última conversa que teve com Castelo Branco, em maio deste ano, segundo a jornalista, o socialite estava com as mesmas roupas há duas semanas e a viver “num pequeno apartamento numa rua dos subúrbios, e as circunstâncias não permitiam uma apresentação tão cuidada”, referiu. José Castelo Branco foi detido no início do mês de maio pela GNR por suspeitas de violência doméstica contra Betty Grafstein. A denúncia de abusos físicos e psicológicos foi feita por parte de profissionais de saúde do Hospital da Cuf de Cascais, onde norte-americana, de 95 anos, se encontrava internada devido a uma fratura no fémur e ferimentos no braço esquerdo, resultados de uma queda que Grafstein contou ter sido provocada pelo marido. Desde então que, por ordem do Tribunal de Sintra, Castelo Branco está proibido de contactar e aproximar de Betty.

A aguardar julgamento, Castelo Branco continua a negar todas as acusações de violência doméstica, tendo mencionado à jornalista o desejo de morrer junto de Betty. “Gostava que pudéssemos morrer ao mesmo tempo. Seria romântico”, contou a Hines, descrevendo pormenores do funeral e indumentária. “Quero estar bonito. E quero que a Betty esteja bonita. As pessoas podem tirar-nos tudo menos a nossa dignidade”, terminou.

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