Fortuna inexistente, linhagem questionável e violência: investigação da "Vanity Fair" conta a história de Castelo Branco e Betty Grafstein (2024)

“Tenho estado calado porque isto acontece há anos.” A afirmação é de Roger Basile, filho de Betty Grafstein que, pela primeira vez, aceitou falar sobre a relação da mãe com José Castelo Branco. Numa investigação publicada esta terça-feira pela “Vanity Fair”, Basile assegura que tem conhecimento da violência doméstica desde do final dos anos 1990.

Este depoimento inédito faz parte de uma reportagem que começou ainda no ano passado, antes da denúncia de violência doméstica. Basile só aceitou a entrevista quando a queixa foi apresentada e tornada pública. Até então, apesar dos vários pedidos, recusara sempre.

Roger Basile dá conta de um episódio concreto, quando descobriu os contornos abusivos da relação da mãe com Castelo Branco (no fim dos anos 90). Após receber uma chamada de amigos de Betty, Roger voou para Portugal e, à chegada, verificou que a mãe “estava toda pisada, desde as nádegas até ao pescoço”. Na mesma altura, Betty ter-lhe-á contado que sofria maus-tratos às mãos do marido. Roger afirma que tentou repetidamente ajudar a mãe a sair daquela que considerava ser uma relação abusiva. “Ela aceitava sempre o José de volta.”

A investigação que revela a fortuna inexistente, a violência e que põe em causa o título de ‘Lady’, começou no outono de 2023, quando o casal atingia milhões de visualizações nos vídeos que publicava na rede social TikTok. Após uma primeira abordagem da jornalista, Castelo Branco convidou-a para um chá no apartamento do casal em Nova Iorque.

Nas semanas que se seguiram, a “Vanity Fair” acompanhou o casal em diversas ocasiões, nos EUA e em Portugal, descrevendo a relação como um “romance épico” entre “uma herdeira de diamantes de 95 anos” e uma “estrela de reality show muito mais jovem e com género fluído”.

Tensão na véspera da viagem a Portugal

Confrontado com as declarações do enteado, José Castelo Branco, que sempre negou as acusações de violência doméstica, dizendo estar a ser vítima de uma “cabala”, disse que Roger nunca gostou dele e que tentava destruir o casamento há 28 anos “para seu próprio benefício financeiro”. Além disso, Castelo Branco acusa-o de ser “transfóbico”.

Durante a reportagem, a jornalista narra um par de episódios de tensão e violência a que assistiu entre Castelo Branco e Betty. Um deles decorreu logo no primeiro encontro com o casal, no Upper East Side. A meio da conversa, José deu-se conta de que estavam atrasados para uma consulta de cirurgia plástica e saiu, empurrando a cadeira de rodas de Betty pelo meio das ruas movimentadas de Nova Iorque.

Foram precisos três minutos e um rececionista para ajudar Betty a entrar no consultório. Nesse momento, a designer de joias disse à jornalista que “preferia não ser arrastada a este ponto”. “Não é que ela quisesse ficar em casa sem fazer nada – ela gostava de ver pessoas. Mas José exigia demasiado dela.”

“Por várias vezes, José tentou calçar um par de sapatos Chanel nos pés inchados de Betty. Betty fez uma careta e protestou com ar de dor no rosto. José insistiu”, pode ler-se na reportagem, que refere também inúmeros momentos “em que a ideia de beleza de José parecia mais do que Betty conseguia suportar”.

Antes da viagem do casal para Portugal, Betty tinha expressado a sua vontade de acompanhar o marido ao batizado da neta. “Se eu não for, acho que me vou arrepender”, disse na presença da jornalista da “Vanity Fair”. Em março, na véspera do voo, a equipa de jornalista, voltou ao apartamento do casal para acompanhar a sessão fotográfica para o artigo e encontrou um ambiente tenso. A certa altura, pelas 23h, ouviu Castelo Branco e Betty a chorar no quarto. “Estás a arruinar a minha vida!”, gritava José. “Não vou para Portugal!”, retorquiu a designer de joias.

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O artigo publicado na revista norte-americana inclui declarações de Betty sobre os comportamentos abusivos do marido, que terão acontecido “desde o início”. Em diferentes conversas com a “Vanity Fair”, a designer de joias apresentou versões diferentes do episódio que a levou ao hospital. Primeiro, disse que tinha sido empurrada da janela, depois afirmou que estava na entrada do hotel quando foi empurrada por três lances de escadas - o hotel em causa não tem três lances de escadas em nenhuma das entradas.

O filho de Betty reconheceu que a memória da mãe não está “particularmente nítida”.

A investigação da “Vanity Fair” mergulha ainda na linhagem supostamente aristocrata de Betty, muitas vezes apresentada com o título hereditário de ‘lady’. Além disso, Betty teria, também, o título de Dama-Comendadora da Ordem do Império Britânico (DBE). De acordo com o casal, a avó adotiva de Betty em Inglaterra era dama de companhia da rainha Mary, esposa de George V, e os pais biológicos eram pessoas “de tal forma importantes que Betty manteria os seus nomes em segredo até ao túmulo” para “não perturbar a família real”.

Contudo, o filho de Betty garante que “a história da Lady Betty Grafstein (...) é uma obra de ficção da autoria de José”. “Os meus avós [maternos] eram pessoas simples”, contou. O título de nobreza de Betty, acrescentou, ter-lhe-á sido atribuído não pela Rainha de Inglaterra, mas pelo consultor diplomático irlandês Anthony Bailey. O também conselheiro de relações-públicas frequentava as festas dadas pelo casal e estava a ajudar a relançar uma ordem de cavalaria católica, a Sagrada Ordem Militar Constantiniana de São Jorge e a Real Ordem de Francisco I, que concedia os seus próprios títulos, e que agraciou Betty em 2001, que começou a usar as letras da ordem “DFO”. Mais tarde, as letras mudaram.

Roger Basile nega, igualmente, que Betty tenha acumulado uma fortuna por conta do negócio de diamantes herdado do terceiro marido, Albert Grafstein. “A minha mãe não tem um tostão”, assegura, notando que Betty “vive [com a ajuda] da Segurança Social”. Se, em tempos, “viveu confortavelmente”, atualmente a sua riqueza limita-se às suas roupas, joias e a casa em Sintra, hipotecada pelo casal.

O apartamento nova-iorquino é arrendado ao casal e tem uma “renda controlada”. “A herdeira dos diamantes pagava menos renda do que eu!”, refere a jornalista que assina a investigação.

“A minha mãe nunca se fez passar por mais do que era”, declarou Roger. “O José espalhou estas histórias e eles tornaram-se celebridades em Portugal. E ela alinhava nisso porque gostava da atenção.”

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